quinta-feira, 11 de junho de 2015

384. Francisco Lezcano

“Bailarino de Pedre”
Técnica: Tierras
100x100 cm

2.000,00 €

Na cidade catalã de Barcelona, a 19 de Janeiro de 1934, nasce Francisco Lezcano Lezcano.
A repetição do apelido provém da afinidade de sangue se seus pais: Ricardo Lezcano Fernandez e Carmen Lezcano Guarinos.
Três anos mais tarde, a família transfere-se para Las Palmas, nas ilhas Canárias.
Decorre o período trágico da eclosão da guerra civil em Espanha e o prelúdio dramático da II Guerra Mundial.
Em contacto com as ilhas, o misterioso sortilégio da paisagem e o exuberante colorido das suas gentes, a criança cedo revela uma vocação inata para o desenho e, logo nos primeiros tempos da escola, a pedido dos companheiros de turna e de folguedo, traça «comics» imaginativos num prodígio de linha e se sombra. Os pinguins e as formigas são personagens da sua predileção, executadas com um estilo surpreendente, capacidade de síntese e abstracção.
Na Escola de Artes Plásticas Luján Pérez, da qual nunca foi aluno mas visitante assíduo numa perspectiva de encontro com outros artistas e promoção de actividades culturais, trabalha na investigação de novos materiais para a realização das suas obras.
Em oposição permanente com as estritas normas do regime franquista, é com as estritas normas do regime franquista, é com esse espírito que expõe as suas primeiras telas e realiza o seu primeiro mural, animado pelo conceito do abstracto que, na época se expande através do Grupo Espacio de que faz parte.
Com o sentimento estético concilia uma poderosa força vitalizadora para a poesia, buscando nos elementos telúrico e humano, os estímulos para o seu caleidoscópio interior.
A paixão pela natureza é nele uma qualidade intrínseca. Investigador infatigável dos fundos oceânicos e das grutas dos vulcões, embrenha-se nos seus mistérios, perseguindo os segredos longínquos, profundos, impenetráveis dos ecos e apelos de outros mundos. Data desse tempo, o seu interesse acentuado pela fauna e pela flora submarina, pelos minerais pela paleontologia a que junta o prazer de um envolvimento absorvente por outras ciências.
Viaja pela Península. Impregna-se bem da sua ilha; Ela é o oásis onde pode desenvolver o potencial criativo que há-de fazer dele um Artista-Humanista, um Humanista-Artista.
A agitação que ameaça fazer deflagrar o Ocidente intensifica em si um sentido de penetrante acuidade, temperada em sonhos de esperança e desencadeada em verdadeira angústia social.
Em 1967, instala-se em Madrid para trabalhar como técnico num Departamento de Engenharia de uma Multinacional, situação que lhe não é de forma alguma confortável nem aliciante.
Incrementa, no entanto, intensa actividade literário e realiza as suas primeiras esculturas em ferro, de grandes dimensões.
Pertence ao Comité Directivo dos Amigos da Unesco. Mais tarde, a Televisão Espanhola revelaria dele uma outra faceta, a de desenhador humorístico.
Dotado de uma índole sensível, extraordinariamente receptiva e poderosamente irrequieta e insatisfeita, ao mesmo tempo que procura as grandes profundidades, as montanhas silenciosas, a solidão dos horizontes, identifica-se com os problemas do seu tempo e toma parte nos movimentos que visam a paz e unidade mundiais.
Esta atitude, como é de prever, incomoda o regime de Franco, que o persegue e põe em risco a sua vida e a segurança da família.
Depois de uma exposição de pintura na Galeria Tosão de Oiro e de um emocionante recital de poesia, abandona Espanha.
Asilado político pelo Bureau da ONU para os refugiados políticos, Francisco Lezcano transpõe a fronteira belga e entra em contacto com um clima fértil de experiências culturais em todos os campos, que lhe permitem ampliar as suas múltiplas capacidades latentes e orientar a sua criatividade na escalada para o imaginário.
Do desenho simbólico-surrealista, da pintura expressionista-simbólica, abre clareira ao subjectivismo, um subjectivismo muito especial onde o traço audaz impõe a trajectória do enigma humano e a cor é um simultâneo de intervenção e renascimento dos valores e direitos individuais.
Organiza conferências, recitais, participa em debates, colóquios, defende a não-violência, luta pelos oprimidos, fiel ao lema: «construir o Amor, não à guerra».
Em Inglaterra vamos descobri-lo ao lado de Seam Mac Bride, Prémio Nobel da Paz e, na Bélgica, com outro Nobel, Adolfo Pérez Esquivel. Na ONU, numa conferência para o Desarmamento. E uma reunião do Parlamento Europeu, elaborando um estatuto a favor dos refractários ao Serviço Militar, os Objectores de Consciência, em Bruxelas.
Da poesia intimista e de ordem sociológica envereda pela prosa fantasista, característica de uma juventude ardente e insubmissa, e ingressa pelos caminhos da ciência-ficção e especulação científica. Atraem-no os variados ramos do saber: Física, Química, Alquimia, Metafísica.
A cumplicidade da matéria aliada è energia do espírito.
Chamam-lhe «colosso», o «homem das mil almas», «monstro sagrado da pintura espanhola», «emissário de Neptuno». O poeta belga Marc Klugkist acrescenta à lista: «nómada do sonho».
Não é exagero metafórico. Neste Artista, pintar e actuar ligam-se de forma indestructível, não propriamente pelo estimulante cultural que se difunde por toda a Europa mas devido ao seu próprio caracter e sensibilidade que o introduzem a expor tanto no Palácio das Nações Unidas como em pleno campo para os rurais e para o proletariado.
Viajante infatigável, os seus quadros percorrem as Canárias, França, Espanha, Suíça, Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra. São apreciados não só nas grandes capitais europeias, como nos povoados, aldeias, descampados e em terreno ocupado por ecologista em Alsácia. Os seus desenhos continuam a preencher revista especializadas desde a Rússia ao Japão.
Em 1987, Francisco Lezcano tem ensejo de visitar Portugal. O seu interesse pelas pessoas e pelos locais, especialmente pelas zonas ribeirinhas, leva-o a registar no seu programa Video-Memoria-Cultural, uma extensa reportagem, exemplo que persegue em outros países. «Havana-96. Recordações de um Turista Heterodoxo» é o título que domina o certame de fotos sobre Cuba «Período Especial», realizado em finais de 1997.
Actualmente em França, onde reside, envolto pelo fascínio mágico dos cátaros e da sua história medieval, Francisco Lezcano pinta e escreve sem cessar. Solicitado por entidades culturais de todo o mundo, são suas próximas metas Jordânia e Cabo Verde.
Entretanto, está entre nós.
Para aqueles, para quem viver representa uma Arte, não termino sem registar um excerto do pensamento desta extraordinária figura tão multifacetada como carismática:
«Aprendamos a caminhar sobre as águas e a atravessar as chamas» - «passar incólume sobre o fio de uma navalha como o caracol» - «comtemplar impávido um terramoto» - afirmações de um Artista que «não acredita na morte» e que não se coibiu de proclamar:
 
«Assim que os homens aprendam a amar-se uns aos outros, terão construído o seu primeiro dia de luz».
 

Aurora Tondela – Portugal 1998

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